24.6.10

Dom Pedro/História: Manoel Bernardino - um herói socialista, espírita e vegetariano.


(FOTO: MANOEL BERNARDINO)



Conhecido primitivamente como Mata do Nascimento, nome que fazia referência ao seu primeiro povoador, o lavrador Manoel Nascimento – que chegou ao lugar por volta de 1915–, o município de Dom Pedro detém o privilégio de ter sido a terra adotada por um dos homens mais peculiares que já viveram no território maranhense: Manoel Bernardino de Oliveira.

Avesso a injustiças, o lavrador cearense Manoel, por sua história – às vezes recheada de lendas, criadas pelo imaginário popular – de combate aos poderosos, tornou-se um dos homens mais respeitados da Mata, onde se estabeleceu em 1916.


Sua principal luta era contra os fazendeiros endinheirados de Codó, que na época mandavam e desmandavam na região em que hoje situam-se os municípios de Dom Pedro, Presidente Dutra (antigo Curador), Santo Antonio dos Lopes, Governador Archer, Governador Eugênio Barros e Gonçalves Dias, entre outros.

Para enfrentar a prepotência dos coronéis e defender pessoas humildes das injustiças perpetradas por eles, não foram raras as vezes que Manoel se armou e cercou-se de homens que o veneravam, atitudes que atraíam a ira dos fazendeiros.

Chamado de “Lênin do Maranhão”, por sua identificação com as ideias socialistas pregadas na época pelos revolucionários russos – principalmente Vladimir Ilich Lênin –, Manoel Bernardino também era leitor das obras de Allan Kardec (pseudônimo do professor francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, primeiro difusor da doutrina espírita).

Fuzilamentos na Mata – Os ideais revolucionários de Manoel Bernardino, sua liderança entre os lavradores humildes da Mata e sua oposição ostensiva ao governador maranhense de então, Urbano Santos, assustaram o poder dominante, que em 1921 enviou para a Mata do Nascimento um contingente de 600 homens, chefiados pelo tenente Antonio Henrique Dias.

O objetivo da ação era impor respeito pela força das armas. O tenente e seus homens chegaram à Mata em 5 de agosto de 1921. Não encontrando Manoel Bernardino – que havia se deslocado a Codó para buscar apoio político e militar –, fizeram dezenas de prisioneiros. Antes de deixar a Mata, “para dar o exemplo”, fuzilaram quatro lavradores: Adão, Francisco, Maurício e Avelino. O tenente e os militares que participaram da missão foram julgados e absolvidos.

Adesão à Coluna Prestes – Em 1925, Manoel Bernardino e os perto de duzentos homens que o seguiam se juntaram à Coluna Prestes. O movimento, liderado por Luís Carlos Prestes e Miguel Costa, percorreu o interior do Brasil e além fronteira, de 1925 a 1927, pregando o fim da República Velha, exigindo o voto secreto e defendendo o ensino público e a obrigatoriedade do ensino primário para toda população. No Maranhão, a Coluna chegou a ocupar 26 dos municípios então existentes.

A Coluna se dispersou em 1927 – o grupo chefiado por Prestes em Gaíba, na Bolívia, e o liderado por Miguel Costa em Libres, na Argentina (ambas cidades próximas à fronteira com o Brasil). O movimento não conseguiu fazer a “revolução” que desejava, mas sua ação ajudou a abalar ainda mais o prestígio da República Velha e a preparar a Revolução de 1930.

Projetou também a figura de Luís Carlos Prestes, o “Cavaleiro da Esperança”, que posteriormente entrou no Partido Comunista Brasileiro (PCB), tornando-se um mito.

Assim que abandonou a Coluna Prestes, em 1926, por achar que ela deveria permanecer no Maranhão, o que contrariava seu caráter itinerante, Manoel Bernardino se estabeleceu por algum tempo no Ceará, voltando ao Maranhão (Mata do Nascimento) em 1929. Então, além de socialista e espírita, também havia se tornado vegetariano – o que era considerado uma excentricidade pelos sertanejos que o conheciam, acostumados a se alimentar, no dia a dia, de carne de gado, caprinos, suínos, aves e caça. Nem leite ele bebia. Dizia que o leite era o “sangue da vaca”.

Um anjo na Mata – Contam alguns que quando voltou à Mata do Nascimento, Manoel Bernardino também deixou cabelos e barba crescerem. Também confeccionou um par de asas e uma cruz.

Carregando a cruz e com as asas presas às costas, Manoel saía perambulando pelos lugarejos próximos, penitenciando-se pelos males que acreditava haver feito a algumas pessoas.

Manoel Bernardino morreu em 17 de janeiro de 1942, aos 60 anos, numa casa como as que abrigam ainda hoje muitos maranhenses – de taipa, telhado de palha e chão batido. Foi enterrado como sempre pedira: sem caixão, apenas coberto por um lençol.

fonte: Jornal Pequeno/São Luis
link:

http://www.jornalpequeno.com.br/2010/8/1/manoel-bernardino-um-heroi-socialista-espirita-e-vegetariano-126539.html
fonte: http://www.jornalpequeno.com.br/

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