Quando o mandato da atual gestora Arlene Costa terminar, em 2012, quatro integrantes da família Costa terão sentado na cadeira de prefeito durante nada menos que 26 anos
Atuais práticas políticas do lugar - antiga Mata do Nascimento -, não diferem muito daquelas do tempo em que o lendário Manoel Bernardino era um dos poucos a enfrentar a prepotência dos coronéis
POR OSWALDO VIVIANI
Lugar que abriga uma legião de excluídos sociais de mais de 11 mil pessoas, segundo o Mapa da Exclusão Social no Brasil (José Lemos, 2008), o município de Dom Pedro, a 324 quilômetros de São Luís, vive uma realidade política comum a quase todos os municípios do centro maranhense (região dos Cocais): é dominado há vários anos por uma dinastia familiar. Esse neocoronelismo – versão moderna, mas não menos nefasta, do sistema político que floresceu no Brasil nas décadas de 1910 a 1950, quando os fazendeiros ricos impunham à maioria do povo suas próprias leis – é representado em Dom Pedro pelo clã Costa.
Quando o mandato da atual gestora Maria Arlene Barros Costa (PDT) terminar, em 2012, quatro integrantes da família terão sentado na cadeira de prefeito durante nada menos que 26 anos – isso desde a primeira eleição municipal, em 1952, em que saiu vitorioso justamente um Costa, Ananias de Morais Costa, que administrou Dom Pedro de 1953 a 1956.
O clã voltaria a ocupar o poder municipal em 1983, com a eleição, no ano anterior, de Alfredo Falcão Costa, marido da atual prefeita. Ele foi prefeito por seis anos (até 1988).
Nas eleições de 1992, o odontólogo José de Ribamar Costa Filho (primo de Alfredo Costa) saiu vencedor. Administrou Dom Pedro de 1993 a 1996 (quatro anos).
Ribamar voltou à Prefeitura em 2000 e foi reeleito em 2004. Foram oito anos no poder: 2001 a 2008. Arlene Costa o sucedeu, assumindo o cargo de prefeita em 2009.
Atualmente, os Costa também marcam presença nos cargos de primeiro escalão do Executivo Municipal. Eduardo Barros Costa, filho de Alfredo e Arlene, é citado pela oposição como tão influente quanto os pais na administração do município. É dono da empresa Imperador Empreendimentos, que possui caçambas que prestam serviços diversos.
Rômulo Costa, outro filho do casal, é secretário de Administração e Finanças. Cíntia Costa, filha, é secretária da Saúde.
E ainda não acabou. Eridan Dias Costa, mulher do ex-prefeito Ribamar Filho, ganhou o cargo de secretária de Assistência Social. Já sua irmã, Ivânia Dias Falcão, é secretária de Educação.
Atraso político e social – O JP na Estrada esteve em Dom Pedro em meados deste mês e constatou que as atuais práticas políticas no município que já teve o nome de Mata do Nascimento não diferem muito daquelas do tempo em que o lendário camponês Manoel Bernardino era um dos poucos a ter coragem de enfrentar a prepotência dos coronéis locais. Estes viviam nababescamente em Codó enquanto a população pobre da região passava as piores privações.
O “voto de cabresto” e a compra de votos, por exemplo, ainda são comuns nos povoados – quase todos paupérrimos e carentes de tudo – do município.
Nesses lugares esquecidos, só se vota em quem paga ou naquele que o poderoso de plantão mandar. Nada diferente da época em que o coronel Sebastião Archer da Silva, de Codó, fazia e desfazia na Mata do Nascimento, lá pelo fim da década de 1940. “Se o coronel Archer apresentasse um sabugo de milho pro povo votar, o sabugo seria eleito”, disse uma das mais antigas moradoras de Dom Pedro ao JP na Estrada.
Recorde de ociosidade – Outra característica do neocoronelismo dom-pedrense está presente na postura dos atuais vereadores do município. Empregados dos cidadãos, eles recusam-se a dar satisfações a seus patrões sobre sua produção, ou melhor, a falta de.
Um levantamento paralelo de movimentos da sociedade civil de Dom Pedro apurou que oito dos nove vereadores do município não apresentaram sequer um único projeto no ano e meio já passado da atual legislatura, o que provavelmente é um recorde nacional de ociosidade.
Frequentar a Câmara Municipal nos dias de sessão – terças e sextas-feiras – também não é com os edis dom-pedrenses. “Um dos vereadores eleitos em 2008, irmão do vice-prefeito, só foi à Câmara Municipal no dia da posse”, revelou Walbert Batista de Carvalho Filho (PTB), o “Dr. Walbert”, único vereador a apresentar projetos nessa legislatura – 22 ao todo.
‘Casa do Povo’ de portas fechadas – O pior é que a Câmara, que deveria ser a “Casa do Povo”, fechou as portas para os cidadãos dom-pedrenses: a população está proibida de entrar no recinto.
Não se sabe de quem partiu a ordem surreal, mas ela é cumprida com extremo zelo pela secretária da Casa, Conceição Vieira, que teria chamado de “vagabundos” e “desocupados” os integrantes de pastorais sociais, sindicatos e igrejas evangélicas e católicas que se manifestaram diante da Câmara, em abril, protestando pacificamente contra a inoperância dos vereadores.
A proibição indignou até o delegado de polícia da cidade, Otávio Cavalcante Chaves Filho, que enviou uma carta ao promotor da Comarca, José Jaílton Andrade Cardoso, relatando os fatos e confirmando a ausência rotineira dos vereadores.
O delegado disse ao JP na Estrada que até um investigador teve sua entrada na Câmara vetada pela “guardiã” Conceição Vieira. “Os vereadores já fizeram um acordo entre eles para não comparecerem na Câmara às terças, como estabelece a lei orgânica do município, mas não aparecem também nas sextas”, contou o delegado. O JP na Estrada apurou que nos dois meses que antecederam o recesso de julho – maio e junho –, aconteceu apenas uma reunião na Câmara de Dom Pedro.Cidade abandonada – Vereadores que nada fazem contrastam com um município em que há muito que fazer. Ruas esburacadas, nas quais corre esgoto a céu aberto; população vivendo em condições sub-humanas na periferia (Vila Ribamar 1 e 2) e no maior povoado (Triângulo); comercialização de carne de animais abatidos num matadouro em situação precária de higiene; coleta de lixo irregular; lixão sem as mínimas condições sanitárias; obras iniciadas e depois abandonadas; mau atendimento na Saúde etc. etc.
São problemas cuja solução é um direito elementar da cidadania, mas que em Dom Pedro hoje parece depender do resgate de um princípio básico da democracia: a alternância de poder.
Saiba MAIS
Dom Pedro tornou-se município pela Lei Estadual nº 815, de 9 de dezembro de 1952. A instalação oficial do novo município deu-se no dia 1º de janeiro de 1953. Antes, Dom Pedro era povoado de Codó.
Gentílico: dom-pedrense
População: 21.479 (Censo IBGE de 2007)
Total de recursos federais recebidos pelo município em 2009 e 2010: R$ 30,5 milhões
Total recebido do FPM (2009/2010): R$ 8,9 milhões
Total recebido do Fundeb (2009/2010): R$ 9,7 milhões
Prefeita: Maria Arlene Barros Costa (PDT), 56 anos, contadora, Ensino Médio completo, natural de Passagem Franca (Maranhão)
Valor dos bens da prefeita declarados à Justiça Eleitoral: R$ 150 mil (veja detalhes abaixo)
Vice-prefeito: Antonio Cloves Lima de Sousa, o "Cloves Bezerra" (PR), 49 anos, empresário, Ensino Médio completo, natural de Dom Pedro
Valor dos bens do vice-prefeito declarados à Justiça Eleitoral: R$ 470 mil (veja detalhes abaixo).
link:
http://www.jornalpequeno.com.br/2010/8/1/dinastia-costa-domina-cidade-pobre-e-atrasada-dos-cocais-126538.htm